Uma virada pesada movimenta a trama de Vale Tudo: Maria de Fátima descobre que a história sobre a suposta infertilidade de Afonso era uma farsa e, com isso, liga os pontos que a levam a um alvo só — a gravidez de Solange. Tem mais: a gestação dela é de gêmeos, fruto de uma noite que ela e Afonso passaram juntos após a volta dele da Europa, quando ele estava embriagado. Diante da possibilidade de dividir o dinheiro dos Roitman, a vilã prepara um plano que coloca duas vidas em risco.
O que já aconteceu
O gatilho dessa escalada veio com a descoberta de Maria de Fátima: Celina apresentou laudos falsos dizendo que Afonso ficou estéril depois de ter caxumba na infância. Era uma jogada para forçar o fim do casamento assim que Celina soube da gravidez de Solange. A armação não só empurrou Afonso para longe como também jogou gasolina no conflito entre as três.
Desesperada para não dividir nada com mais ninguém, Celina chegou a se atirar da escadaria do Theatro Municipal ao tentar interromper a própria gestação. Não conseguiu. O episódio, além de cruel, expôs o nível da disputa por posição e dinheiro na família Roitman, daquele tipo de conflito que a novela vem explorando sem aliviar.
Ao revisar datas e acontecimentos, Maria de Fátima percebe que as contas fecham: Solange engravidou logo depois da viagem de Afonso, exatamente quando ele e ela passaram uma noite juntos. A confirmação de que Solange espera gêmeos acende ainda mais o alerta para a vilã. Com duas crianças no caminho e sua própria gravidez em curso, a partilha do que é dos Roitman parece, para ela, uma ameaça direta.
A trama reforça um detalhe que pesa a favor da verossimilhança: Afonso tem histórico de gêmeos na família. Esse tipo de traço, quando existe no lado feminino, pode aumentar a chance de ovulação múltipla, e a novela usa o dado para sustentar a gestação dupla de Solange. Não é regra, claro, mas ajuda a construir o cenário de tensão.
Apesar de todo o jogo por trás, Solange segue sem contar a Afonso sobre os gêmeos. Sardinha, amigo fiel, insiste para ela abrir o jogo, dizendo o óbvio: o pai tem o direito de saber. Mas Solange hesita. Com Maria de Fátima também grávida e o ambiente cercado por mentiras, ela teme virar alvo — e está prestes a virar mesmo.

O plano e os riscos
É aqui que a história fica ainda mais sombria. Decidida a eliminar a rival sem deixar rastros, Maria de Fátima monta um esquema frio: trocar a caneta de insulina de Solange por uma igual, só que cheia de água. A ideia é provocar descontrole glicêmico e, com isso, um aborto. A execução depende de logística e sangue-frio.
Primeiro, ela entrega uma missão a César, seu amante: manter Solange ocupada no Tomorrow, onde eles se encontram com frequência. Enquanto isso, usa uma chave antiga do tempo em que foi colega de quarto de Solange para entrar no apartamento e adulterar o material médico. O acesso facilitado dá a falsa sensação de impunidade que a personagem costuma perseguir.
Até César, que não é exatamente um bastião de moral, reage mal ao ouvir o plano. A ideia de mexer em medicação, ainda mais numa gestação, ultrapassa uma linha. O choque dele funciona na trama como um espelho do público: a ambição de Maria de Fátima escalou para um terreno em que o dano é concreto e imediato.
O roteiro acerta ao tratar a insulina como o que ela é: um medicamento de uso vital, sem substituto caseiro. Em pessoas com diabetes, especialmente durante a gravidez, a falta de insulina pode gerar hiperglicemia grave, desidratação e cetose. No limite, desemboca em cetoacidose diabética, um quadro emergencial que ameaça a vida da mãe e dos bebês. Sintomas como sede excessiva, náusea, dor abdominal e respiração acelerada seriam sinais de alarme numa situação real — e, na ficção, pistas dramáticas.
Além do risco clínico, há o componente psicológico. Solange confia numa rotina de aplicação e controla a gestação dentro do possível. Ao adulterar a medicação, a vilã mexe no que sustenta a sensação de segurança da rival. É uma violência silenciosa, que pode passar por “azar” ou “mal-estar”, perfeito para quem quer sabotar sem ser vista.
O plano também depende de uma variável pouco discutida, mas decisiva: a organização de Solange com seus insumos. Gente que usa caneta de insulina costuma ter refis, seringas, agulhas sobressalentes. Qualquer troca só passa despercebida se a substituição for convincente, com embalagem similar e tempo exato. A aposta de Maria de Fátima é que o choque da rotina e as emoções da gravidez abafem o senso de alerta de Solange.
Outra peça nesse tabuleiro é o silêncio. Enquanto Solange pensa se conta a Afonso, Maria de Fátima usa o segredo a seu favor. Não é só dinheiro em jogo. É projeto de vida, pertencimento, nome de família. Na prática, quanto mais tempo Afonso ignorar a paternidade dos gêmeos, mais espaço a vilã tem para agir.
Do outro lado, Celina deve se tornar um ponto de pressão. Ela mentiu sobre a suposta esterilidade, apresentou falso laudo, empurrou Afonso para uma separação e, ainda assim, não atingiu o objetivo de controlar o cenário. Se essa farsa vier à tona, o castelo balança. A revelação abre caminho para que Afonso confronte as manipulações e, quem sabe, corra para proteger Solange e as crianças.
Em paralelo, a escolha do Tomorrow como palco para a distração de Solange diz muito sobre o estilo da trama. Um lugar de música alta, vaivém de gente e pouca vigilância pessoal é perfeito para longas ausências de casa sem levantar suspeita. E é nesse intervalo que o crime perfeito tentaria acontecer.
Como em outras passagens da novela, a queda de Celina no Theatro Municipal e agora a sabotagem de medicação jogam com elementos de impacto visual e moral. São ações que não pedem confissões nem bilhetes de autor, mas deixam consequências físicas — um tipo de violência que a audiência reconhece e que a produção vem usando para escalar a tensão.
Nesse ponto, os próximos capítulos devem girar em torno de três eixos: a saúde de Solange e dos gêmeos, a sobrevivência da mentira de Celina e a capacidade de Maria de Fátima em manter o plano intacto. O risco de pistas aparecerem é grande. Um frasco esquecido, um cheiro diferente, um efeito fora do padrão. Em teledramaturgia, qualquer detalhe pode virar prova.
Sardinha, que já mostrou ser bússola moral de Solange, pode ser a peça que falta para estourar a bolha. Ele é do tipo que repara no que os outros não veem e não tem medo de falar o que pensa. Se notar qualquer coisa estranha no comportamento ou no tratamento de Solange, a casa de Maria de Fátima tende a cair mais rápido do que ela imagina.
Em termos de impacto na narrativa, um eventual agravamento clínico de Solange abre espaço para reaproximação com Afonso. Se ele chegar ao hospital e for confrontado com o risco aos filhos, a urgência atropela qualquer intriga. Ao mesmo tempo, a sombra da herança Roitman segue puxando as cordas: quem nasce, quem reconhece, quem herda. É uma disputa de sobrenome e poder, classicamente novelística.
Para o público, fica a expectativa sobre até onde Maria de Fátima vai. A personagem, vivida por Bella Campos, vem escalando de armação em armação, e agora entra num território sem retorno. Se der certo, ela elimina a concorrência. Se fracassar, responde por um crime contra gestante e se isola de aliados — inclusive de César, que já demonstrou limites.
Também pesa a favor do suspense a logística do cotidiano. Consultas pré-natal, exames de rotina, checagens de glicemia. Quanto mais passos institucionais, maior a chance de um profissional de saúde notar descontrole e disparar um alerta. Em novela, isso pode acontecer na hora H, com exame apontando algo errado e virando prova da sabotagem.
Enquanto isso, a releitura de temas clássicos de família e poder mantém a trama em alta rotação. Mentiras travestidas de laudo, quedas acidentais que não são tão acidentais, manipulação de remédios — tudo isso se encaixa num mesmo mosaico: o da ambição que corrói alianças e transforma casa em campo de batalha.
Fique de olho em pistas que podem mudar o jogo.
- Se César recuar, o plano de distração desaba e a troca da caneta pode não acontecer.
- Se Solange notar diferença na resposta da glicemia, a suspeita de sabotagem cresce rápido.
- Se Celina for desmascarada pelo falso exame, Afonso tende a reagir e reescrever alianças.
- Se Sardinha convencer Solange a falar, a paternidade dos gêmeos vira assunto público.
- Se aparecer qualquer prova material da troca de medicação, Maria de Fátima perde o controle da narrativa.
Por ora, o tabuleiro está armado. A vilã tem a chave, o plano e a pressa. Solange tem uma gravidez sensível, amigos atentos e uma verdade que precisa ser dita. E Afonso, no olho do furacão, ainda nem sabe que está prestes a ser pai de dois.